quarta-feira, 20 de março de 2013

Humor Revolucionário

Somos bombardeados o dia todo com piadinhas baratas, a grande maioria sempre escolhendo oprimir ainda mais àqueles que já são sempre oprimidos. Afinal que nunca ouviu piadinhas infames sobre negros, gays e mulheres? É fácil fazer graça com os preconceitos já embutidos no pensamento coletivo, difícil é quebrar este padrão, e mais difícil ainda é fazer um humor que faça rir e pensar ao mesmo tempo. 

Temos espalhados por nosso país e pelo mundo "humoristas" que acreditam que qualquer piada vale desde que faça o público rir, que acham que o humor deve ser excluído de qualquer seriedade e contexto social. Rafinha Bastos acha que é válido fazer piada satirizando as sobreviventes de um crime de estupro, Danilo Gentili acha normal fazer graça com vitimas do holocausto, e já disse em entrevista que "minha pretensão com a comédia nunca é denunciar, nunca é nada, é só destruir mesmo".

Muitos destes mesmos humorista acham que a piada não deve ter responsabilidade social nenhuma, que ela não é formadora de opinião, afinal é só uma piada, quem vai levar a sério? A questão é que toda forma de entretenimento tem sim uma função social, principalmente o humor, que reforça preconceitos e normaliza atentados contra os direitos humanos, como o desrespeito por minorias historicamente oprimidas.


O documentário "O Riso dos Outros" com direção de Pedro Arantes, mostra as facetas desta questão. No filme, a famosa blogueira feminista e doutora em língua inglesa e literatura, Lola Aronovich, após diversos humoristas soltarem a famosa perola "É só uma piada", ela responde "É um insulto". E é realmente isto, nada é apenas uma piada, o humor tem um cunho social e ideológico muito maior do que imaginamos.

Gabriel Groswald, diz uma frase interessantíssima no documentário, com a qual concordo plenamente: "O humor do qual mais gosto, é o que não ri da vítima, mas do carrasco, mas este é um processo, é um trabalho do comediante, tem que ver com a ideologia do comediante. Eu vejo comediantes que riem, por exemplo, dos pobres, e não é algo que eu goste, porque se está rindo do pobre e não me parece que seja justo."

Recomendo a todos assistirem ao documentário, pois é muito completo e interessante. Fernando Caruso, faz uma ótima piada sobre preconceito contra homossexuais, Jean Willys defende a causa das minorias de forma sublime e

O humor surgiu na antiga Grécia com as comédias gregas, e derivou da medicina humoral, onde acreditava-se que o humor era um dos responsáveis pela regulação da saúde física e emocional. Atualmente o humor é considerado uma ciência, e possui diversas vertentes teóricas. Mas uma coisa é certa, sua função é muito maior do que apenas fazer rir, visto que o humor ocupa uma função de medidor da evolução social de uma comunidade. Portanto é de uma pobreza intelectual incrível um humorista dizer que é só "uma piada".

Infelizmente estamos tão acostumados com o humor pejorativo e preconceituoso, que deixamos de perceber que o humor revolucionário já faz parte do nosso cotidiano, é claro que ainda em menor grau, mas a piada consciente e politicamente correta, já está ocupando as ruas, e é muito mais engraçada! 

Laerte, o famoso cartunista, é o maior representante brasileiro do humor revolucionário. Suas tirinhas com humor de cunho critico já ganharam muitos fã e tiveram um papel fundamental durante a ditadura com suas publicações no folhetim "O Pasquim". Veja alguns de seus trabalhos:

O retorno do falecido partido Arena.
Resposta ao Sr. Ives Gandra, por sua ignorante entrevista dada a Folha de S. Paulo.
Resposta ao infame tweet de Danilo Gentili "'1 gay é morto a cada 26 hs?' 140 heteros são mortos a cada 24  hs. Alguém ai come meu cu hj? Só por segurança."
Em resposta a polêmica e ridícula "Cura Gay" 
Em resposta ao Bolsonaro. Acho que está nem precisa de muita explicação né?
Argentina aprova lei que permite casamento entre casais homossexuais.
Em relação a escolha pessoal de Laerte de assumir ser um cross-dresser (pessoa que se veste como uma pessoa do sexo oposto)
  
O humor revolucionário ainda caminha a passos tímidos no Brasil, mas vem ocupando cada vez mais espaço, acompanhando a evolução da sociedade. Torço para que logo o humor revolucionário se torne o normal e o "humor" de figuras como Rafinha Bastos, Danilo Gentili e Cia. Ltda, tenha cada vez menos risadas.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Bíblia = Argumento Absoluto?

Revoltadíssima com a eleição inconstitucional do Pastor Marco Feliciano para presidente da comissão de direitos humanos, fui atrás de mais noticias para entender como um retrocesso deste porte ocorreu em nosso país e fiquei contente em ver a revolta de milhares contra este ato idiótico do nosso governo.

Protestos estão sendo realizados em todo o país, petições online já tem mais de 16 mil assinaturas (https://www.allout.org/pt/actions/felicianonao). Infelizmente, tive a péssima ideia de olhar os comentários deixados por leitores, nas diversas notícias online a respeito. Fiquei surpresa (pois ainda possuo grande fé na  humanidade e na população brasileira), em ver muitos comentários comemorando o ganho da eleição. Mas a surpresa não foi muita, quando vi que, em 80% dos comentários escritos por defensores de Feliciano, o principal argumento era o mais falacioso de todos os tempos: a bíblia.

Falácia, pela definição do nosso querido e amado dicionário da língua portuguesa, significa: "enganoso, ilusório, vão; que engana", ou seja, um argumento inválido que se disfarça de válido. O argumento "Está escrito na bíblia, portanto é verdade absoluta para todos" é tão válido quanto dizer que "Está escrito no livro Harry Potter, portanto é verdade que existem bruxos". Ou seja, a bíblia não é material de argumentação para ninguém.

A historiografia moderna não aceita a bíblia como fonte historicamente confiável. Cabe ao individuo, acreditar ou não em sua veracidade, mas é imutável o fato de que a bíblia é um livro escritos por homens, e que a história a vê como um livro de mitologias cheio de lições fictícias do comportamento que era imposto à época, 2000 anos atrás. 

Portanto, o desejo de Falaciano de impor a bíblia como lei absoluta e argumento verídico para toda a população é um absurdo de enormes proporções, visto que muitos discordam da veracidade da bíblia e/ou de deus. 

Vejam abaixo os comentários mais absurdos e esdrúxulos que encontrei online a respeito da vitória de Feliciano:

Homossexuais = Plantas (seres inanimados)
Desumanização e falta de empatia como argumentos. Sério?

Queria só saber de onde essa pessoa tirou que existe uma lei que obriga um evangélico a casar homossexuais....
Liberdade de expressão é bem diferente de liberdade de opressão.

Ameaça de dor e tortura eternas para aqueles que não acreditam em deus ou na bíblia. Realmente deus é muito amor.

Argumento falacioso! Mais nada a declarar!

Os casais homossexuais sofrem retaliação por um simples ato de amor como um abraço ou um beijo, mas os preconceituosos são eles, afinal, quem mandou não acreditar na minha bíblia e no meu deus.



Esta é realmente uma ótima pergunta.

Tradução

Cuidado: esta é uma obra de ficção. Não tome-a literalmente.
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