quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Blog ensina a mulher a ser submissa: estamos em 1960 ou em 2012?

Pesquisando e estudando um pouquinho sobre a inquisição e como ela ainda acontece nos dias atuais (um assunto muito polêmico mas que é importantíssimo de ser debatido e discutido e que ainda vou trazer para vocês) me deparei com um blog com a seguinte postagem "Guerra dos Sexos - Machismo x Feminismo". 

Só de olhar o título já fiquei preocupada pois a autora claramente não sabe o que é feminismo ao colocar machismo e feminismo como opostos em um título. Quando li o texto fiquei simplesmente horrorizada com tudo o que li, só para citar alguns trechos do texto, a mesma escreveu o seguinte: "feministas lutando para ser iguais aos homens sem respeitar o marido em absoluto", "se o homem não tem o direito de ser machista, porque a mulher teria o de ser feminista?" e "Não apoiamos - o feminismo, pois a palavra de Deus manda que a mulher seja submissa ao marido para que não hajam conflitos no casamento, um tem que ser o líder, e Deus determinou que fosse o homem". 


Fiquei simplesmente chocada com o conteúdo sexista do texto, mas fui ler os comentários pois certamente dentre os mais de 10 mil seguidores do blog, alguém devia ter discordado com aquele absurdo, não é? Pelo contrário, encontrei pessoas (principalmente mulheres) defendendo e concordando em absoluto com esta teoria. Segue alguns comentários de exemplo:




No fim do texto ela cita um outro com o título de "Comentário polêmico: 'Você defende o machismo'". Fui então atrás das outras postagens do blog e o que achei foi um texto mais absurdo que o outro. Vou listar abaixo os trechos de textos mais sexistas:

Do texto "Submissão"

- "para a mulher, Deus ordenou que ela fosse submissa"
- "Deus escolheu o homem para ser o líder da família, a mulher vai poder liderar em seu lugar? Não."
- "Quando Deus fala de ser submissa, é respeitar o esposo, não querer passar por cima dele"
- "Ser submissa não é ser escrava, é saber respeitar a autoridade instituída por Deus"

Do texto "O que a mulher faz que irrita o marido"

- "chamar a atenção dele, diante das demais pessoas"
- "interrompê-lo quando ele está falando"
- "desautorizá-lo"
- "quer falar dos problemas quando ele está chateado e de cabeça cheia"
- "ser muito sentimental e chorar por tudo e por nada"
- "dar a famosa desculpa da dor de cabeça quando ele quer estar com você"
- "não ter a comida pronta no horário de refeições"
- "continuar vendo a televisão quando ele chega em casa e quer atenção"
- "não estar em casa quando ele chega cansado"
- "passa horas conversando (no telefone), quando ele gostaria de receber atenção."
- "falar demais, principalmente quando ele está vendo futebol"
- "fazer uma comida sabendo que ele não gosta"

Estes textos são completamente sexista, discriminatórios, cissexistas, reforça estereótipos que o feminismo vem tentando acabar a séculos e muito machista. Só não sei o que foi pior para mim, ler esses textos ou ler os comentários. Seguem alguns para vocês lerem:




O desserviço que a religião faz para as mulheres e pela luta por direitos iguais é enorme. Eu como pessoa e feminista respeito toda e qualquer religião, e tenho minhas próprias crenças também, mas quando a religião começa a interferir no direito da mulher à igualdade isto me irrita profundamente. 
Ensinar as mulheres à serem submissas aos seus maridos pois eles são "superiores" à elas? Sério mesmo? Isso é irreal! É colocar para a mulher que ela deve aceitar que é e sempre deverá ser inferior ao homem, nunca igual. Só reforça o sistema patriarcal e opressivo que temos hoje. 

E pior que a opressão sofrida é a submissão. É você fazer a vítima desse sistema acreditar que é esse o seu destino, que é assim que as coisas devem ser, que ela deve se calar, que ela não deve sequer pensar, apenas obedecer. E é esse pensamento que algumas religiões insistem em propagar, em levar adiante, e é este pensamento que eu repugno. Como consequências dessa crença na submissão feminina posso citar:


- a mulher ganha um salário 30% menor ao do homem

- apenas 6,1% dos homens dividem as tarefas domésticas com as mulheres
- as mulheres ocupam menos de 10% dos cargos políticos existentes
- 1 a cada 3 mulheres sofre ou já sofreu com violência doméstica
- 1 a cada 4 mulheres sofre ou já sofreu com depressão



Apenas para falar de alguns dos danos causados. Não estou querendo dizer que a religião é a única culpada por estes dados, o que estou afirmando aqui é que ao incentivar o tratamento da mulher como submissa e inferior, e ensinar as mulheres que o seu marido é o seu superior e que a vontade dele deve prevalecer acima da sua, a religião contribui para que o sistema patriarcal, gerador dos problemas acima citados, continue intocável e inquestionável. 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Slut Shaming e Porque é Errado

Achei um vídeo ótimo na internet hoje. É uma menina de 14 anos, chamada Sarah. Ela mora no Canadá e tem um vloger no youtube. No dia 20 de agosto de 2011, quando ainda tinha 13 anos, ela fez um vídeo chamado "Slut Shaming and Why It's Wrong" (Slut Shaming e Por que é Errado). O negócio se tornou super viral na internet, ela foi citada em vários blogs feministas e já tem quase 600.000 visualizações. Para mim o principal motivo deste video ter se tornado tão grande, é por que foi um tapa na cara da sociedade, por que se uma menina de 13 anos consegue entender e explicar perfeitamente o que é Slut Shaming, mostrar o por que de ser errado e suas consequências para as mulheres, como as pessoas ainda não enxergam isso?  


A grande maioria das mulheres já sofreu e/ou praticou slut shaming, e ainda sofrem todos os dias, e a sociedade e a mídia contribuem imensamente para isso. Na mídia o comportamento e vestuário feminino está sempre sob constante análise, sob constante critica. Fala-se dos vestidos apertados, das saias curtas, das blusas decotadas, da calcinha que apareceu em uma cruzada de pernas, do número de namorados, da virgindade da mulher, etc. A Sandy ter insinuado que sexo anal pode ser prazeroso foi um escândalo nacional. 

Não está na hora de acordar e ver o quão errado é você se sentir no direito de respeitar ou desrespeitar uma mulher de acordo com o que ela se veste, com o que ela bebe, com o que ela fala, com quantos parceiros ela tem, enfim qualquer motivo. Todxs merecem respeito, independente de qualquer coisa. 


Enfim, achei a Sarah incrível, e a clareza e propriedade com que ela fala do slut shaming é simplesmente fantástica. Por isso transcrevi e traduzi para vocês o que ela fala no vídeo. 


Quem você está chamando de...? Meu corpo não é um insulto.
Slut Shaming e Porque é Errado?


(Transcrito e traduzido de "Slut Shaming and Why is Wrong") 

Primeiro, o que é slut shaming?
Slut shaming é o lamentável fenômeno em que as pessoas degradam ou ridicularizam uma mulher por que ela usa roupas apertadas ou reveladoras, gosta de sexo, faz muito sexo, ou por causa de algum rumor (fofocas) de que ela pratica atividades sexuais.

A mensagem que o slut shaming passa para as mulheres é que sexo é ruim, que ter relações sexuais com mais de uma pessoa é horrível e que todo mundo vai te odiar se você fizer sexo.

Esta mensagem (desculpem a linguagem) é uma merda.
Sim, eu tenho 13 anos e falei a palavra merda, sim eu tenho 13 anos e estou falando de slut shuming. Lide com isso.

Enfim, se você deu o seu consentimento, se você esta emocionalmente e fisicamente preparada para isso, se você usar proteção adequada e se sentir segura e confortável com o seu parceiro, então o sexo é bom. Não é da conta de ninguém a não ser você mesma com quantas pessoas você faz sexo ou com que freqüência você faz. Você não merece ser odiada por ser sexualmente ativa.
Hey, nós não devíamos fazer slut shaming, afinal, toda pessoal normal e saudável gosta de sexo.
E isso também contribui para a cultura de estupro/apoio a cultura de estupro. Cultura de estupro é uma cultura em que a violência sexual contra as mulheres é considerada comum e onde prevalece uma atitude que tolera a violência sexual. Slut shaming contribui com isso enviando a mensagem de que tudo bem estuprar “vadias”. Porque por fazer muito sexo ou usar roupas apertadas ou reveladoras de alguma forma elas estão “pedindo por isto”.

Estupro é causado por estupradores, misoginia, violência estrutural e tolerância institucional. Não pela roupa da mulher ou sua maquiagem, não pelo seu modo de falar ou seu modo de andar, não por ela beber, ou não ter sido cuidadosa o suficiente e certamente não por ela ser uma “vadia”.
Estar no comando das nossas vidas sexuais não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, independentemente se fazemos sexo por trabalho ou por prazer.


Eu sou um cara que respeita às mulheres, e eu estou cansado de mulheres olhando para trás por cima dos ombros, quando elas me vêem em uma rua depois de anoitecer, assustadas por que alguns homens não conseguem agir como seres humanos.
Slut shaming tira o direito das mulheres de se expressarem sexualmente sem o medo de serem examinadas/julgadas por homens e mulheres e torna o corpo da mulher em um objeto. 

O que eu estou querendo dizer aqui é que slut shaming é errado em qualquer idade. Eu estou notando muitas garotas da minha idade começando a dizer (slut), e simplesmente me choca cada vez mais. Como elas podem usar esta linguagem ofensiva de maneira tão casual? É como se elas nem soubessem o significado de suas palavras, e este é o problema, elas não sabem.
Então se você está assistindo a isso (neste caso lendo) e conhece alguém que faz slut shaming passe este vídeo adiante. Eles podem aprender alguma coisa. Quero dizer, pode ser que não funcione, mas o quão incrível seria mudar a opinião mesmo que for só de uma pessoa. Ações simples podem ter grandes impactos.

Confira o vídeo em inglês:






terça-feira, 23 de outubro de 2012

Preconceitos Camuflados em Humor

Atualmente vivemos em uma sociedade onde o politicamente correto, onde o senso de justiça e a luta por direitos iguais e pelo fim de preconceitos é considerado chato.

O legal agora é ser politicamente incorreto, rir de piadas que reforçam a cultura de estupro, assistir a novelas que incentivam a violência contra a mulher e comprar roupas naquela loja que reforça estereótipos e incentiva a gordofobia.


E fica a dúvida, até onde vai o limite entre a piada e o preconceito?

Os "politicamente incorretos" sempre que se fala em limites para piadas, gritam "Censura! Liberdade de Expressão". Acredito que a liberdade de expressão é uma conquista enorme sim da sociedade. Mas sua liberdade e o limite da piada vai até onde o respeito ao próximo começa. Temos sim o direito a livre expressão e de criar a piada que quisermos, mas em nenhum momento este direito lhe permite ofender, constranger ou violentar (verbalmente e emocionalmente) qualquer pessoa.

Os humoristas têm sim o permissão de fazer qualquer piada que surgir em sua imaginação, desde que a mesma não seja ofensiva ou constrangedora para alguma raça, gênero, orientação sexual, tipo físico, etc. Afinal fazer piadas ofensivas é fácil, difícil é criar piadas inteligentes. Parece que é ai que se encontra a dificuldade.  


As pessoas costumam falar "mas é só uma inocente piada", "não leve uma piada tão a sério" e outras frases que vemos espalhadas por aí, defendendo a "liberdade de expressão" ou melhor dizendo, defendendo a liberdade de ofender, de expressar seus preconceitos, camuflados em humor, em piadas. 

O problema é que quando você ri de uma piada homofóbica e depois vê uma reportagem falando de mais um homossexual que foi morto, ou espancado, ou agredido verbalmente, você acha normal, afinal gay "escolhe" ser diferente né, tem que arcar com as consequências.



O problema é que quando dá um retweet em uma piada sexista e depois você vê uma noticia falando sobre uma acidente de transito com uma mulher envolvida, você acha super normal e legal dizer "mulher no volante perigo constante".

O problema é que quando você compartilha uma piada gordofóbica e depois senta-se uma pessoa acima do peso ao seu lado em um restaurante, você acha normal olhar com nojo, olhar com desprezo para aquela pessoal, afinal se elx está gordx desse jeito é por que quer, por falta de esforço.

O problema é que quando você dá um curtir em uma piada de estupro e você lê no jornal sobre uma garota que foi estuprada em uma festa depois de ter consumido bebida alcoólica, você acha que é mentira dela, ou que o homem não consegue controlar seus instintos, que ela estava provocando, afinal a culpa é sempre da vítima nesses casos né.


Seja legal com pessoas gordas: um dia elas podem salvar suas vidas
A cada piada que você ri, compartilha, curte, dá um retweet, você normaliza os preconceitos. Torna eles parte da realidade, comuns, algo a que não se dá a devida importância. Afinal se a homofobia, o sexismo, o machismo e o estupro são coisas que a sociedade acha engraçada, como a população vai levar a sério estas causas?


Para você que ri das piadas do Rafinha Bastos, Danilo Gentili, CQC, Testosterona e Cia Ltda, você realmente considera engraçado as milhares de mortes de seres humanos, todos os anos, todos os dias, todo segundos, por causa do preconceito e da discriminação? Esse mesmo preconceito que cria as piadas das quais você tanto ri? 

Eu fico imaginando a dor de quem sofre ou já sofreu com qualquer tipo de preconceito, ao ver ou ouvir essas piadas. Deve ser como levar um tapa na cara, como abrir uma ferida mal curada. Com certeza muito doloroso.

Será que nos tornamos tão egocêntricos e narcisistas que realmente chegamos ao ponto de rir do sofrimento dos outros?




*Peço desculpas a todas as figuras de piadas preconceituosas neste post. Mas quis deixar bem ilustrado o tipo de piada que é feito e aplaudido pela nossa sociedade.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Religião X Feminismo



Demorei a perceber o quanto a religião influenciava nossas vidas diárias, principalmente a de nós mulheres. Apenas quando tinha 12 anos foi quando essa realidade começou a me atingir. 

Fui passar minhas férias visitando meu pai no Espirito Santo, onde ele mora, foi quando tive uma das experiencias que mais me ensinou sobre as atitudes da religião quanto a mulher. Ficamos na casa da mãe da nova esposa do meu pai, onde ela morava com o marido dela e o filho mais novo. Após uns 10 dias na casa, fiquei sabendo que esta senhora apanhava frequentemente do marido, quando eles se deitavam ele dava chutes e socos nela. Ela já havia saído de casa várias vezes, mas havia voltado. Eu não entendia o porque. Com 12 anos ficava me perguntando como alguém podia ficar casada com uma pessoa que te bate todos os dias?



Meu pai deu um jeito de alugar uma casa, do outro lado da cidade, para ela poder literalmente fugir. Nos mudamos todos para lá enquanto ele estava no trabalho. Uns 15 dias depois vieram duas pessoas da igreja evangélica que ela frequentava, um casal. Eles ficaram conversando na sala, com todos presentes. Eu não estava prestando muita atenção pois estava jogando no computador, foi quando me dei conta de que eles estavam tentando convence-la a voltar para o marido. Falaram para ela que ele havia ido na igreja, que estava muito arrependido, que só chorava, que estava implorando para ela voltar para casa, que um casal é como duas folhas de papel coladas, que não pode separar. Que se ela se recusasse a voltar para ele após ele ter se arrependido que ela estaria cometendo um grande pecado, pois Deus diz que devemos perdoar, e casamento é para sempre, e etc. Fizeram lavagem cerebral com a senhora. No dia seguinte ela fez as malas e voltou para casa. 

Aquilo me chocou muito! Hoje mais de 10 anos depois, me lembro de tudo perfeitamente. De como eu achava tudo um absurdo sem tamanho. Ela havia apanhado dele, ela já tinha dado várias chances para ele! 
Como qualquer religião, qualquer Deus poderia considerar a separação deles um pecado?

Até hoje, sinto uma grande sensação de revolta toda vez que vejo alguma noticia de alguma instituição religiosa que quer interferir ou que interferiu nos direitos da população.
É deputado tentando passar lei para "bolsa-estupro", vereador tentando criar o "dia do orgulho hétero" e a igreja de todos os lados se manifestando igual louca contra o projeto de Lei que criminaliza a homofobia. E eu fico me perguntando porque:
Para que eles possam continuar destilando todo seu preconceito, ensinando crianças e adultos a serem também preconceituosos e intolerantes?
Para que a Igreja continue se metendo na vida de quem não é chamada?
Para que a Religião continue interferindo nos nossos direitos e nas nossas vidas e impondo suas vontades e suas leis para todos, independente de suas crenças?
Para que a Igreja e a Religião continuem no poder arrecadando milhares e milhares de reais todos os anos, para pagar o trono de ouro do papa ou construir uma igreja evangélica de 4 milhões de reais, e aterrorizando as pessoas que não "se comportarem" com o inferno?


A origem do patriarcado está enraizada nas origens da igreja. Por 2.000 anos os religiosos consideraram e ainda consideram a bíblia, (um livro escrito por homens e planejado por HOMENS no século III), como justificativa para seus repugnantes atos e preconceitos. Usam este livro até os dias atuais como desculpa para maridos baterem em suas esposas, para mulheres serem tratadas como objetos e serem inferiorizadas pela sociedade, para cometerem crimes de homofobia, enfim, para diversas ações inescrupulosas e que estão bem longe de serem ações aprovadas por Deus. 


Eu tentei ler a bíblia uma vez apenas, com 13 anos, após poucas páginas cheguei em uma parte onde dizia que a mulher menstruada ficava amaldiçoada durante a menstruação e 7 dias após ela, e quem tivesse relações com ela também ficaria amaldiçoado por não sei quantos dias. Fechei o livro na mesma hora e nunca mais encostei nele. 

Nós feministas não queremos que as igrejas e religiões fechem as portas. Não queremos que as pessoas deixem de ser religiosas e se tornem feministas. A opção é de cada um. Cada um acredita no que quiser. O que eu não aceito, não permito e luto fortemente contra, é o meu direito de ter a MINHA opção, de ter minha escolha, sem que sua opção, sem que suas crenças, sem que sua igreja interfira. 

Só quero que eu e que todos que vivem na nossa sociedade tenham a possibilidade de tomar suas próprias decisões, afinal as minhas escolhas só dizem respeito a mim e a mais ninguém. 

A religião e o patriarcado querem interferir com o que fazemos com nosso sistema reprodutor, com nossos corpos, com nossas vidas, com tudo. Eu não vou permitir. Você vai?



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Basta!


A sociedade se acha no direito de nos ditar um monte de coisas, como nos vestir, o que fazer com nossos cabelos, o que comer, com que namorar, com quem transar, enfim tudo na nossa vida é minuciosamente avaliado, julgado e pré-determinado de acordo com as vontades de todo mundo, menos a nossa.

Olhe para si mesmo e se pergunte:
- quantas vez você já chamou de vadia (ou algo do tipo) alguma mulher na rua por estar usando uma roupa curta ou sexy?
- quantas vezes você já disse que só "merece respeito quem se dá ao respeito", como se você fosse um ser muito superior que pode determinar quem merece ou não o seu precioso "respeito"?
- quantas vezes você já viu um caso de estupro na tv, e questionou que roupa ela estava usando, ou o que ela estava fazendo a essa hora da noite na rua?
- quantas vezes você já falou para suas filhas, netas, sobrinhas, amigas, que elas não podem usar roupa curta, ou decotada, ou muita maquiagem, por que serão consideradas vadias?

Nós mulheres sofremos diariamente com o abuso, com o sexismo e com o machismo, inclusive de nós mesmas!

Só quem é mulher para entender o quanto é assustador e humilhante caminhar até o ponto de ônibus, e ter que ficar ouvindo nojeiras absurdas, as famosas "cantadas". 
Só quem é mulher para entender o quanto é doloroso, vergonhoso e traumatizante passar por uma situação de abuso, como quando eu tinha 12 anos, e estava voltando da casa de uma amiga, e um homem de bicicleta passou por mim e agarrou meus seios, como se eu fosse uma coisa, um objeto.
Só quem é mulher para entender o quanto é revoltante e horrível, sua irmã caçula de 14 anos chegar em casa da escola de inglês e contar que um cara abaixou a calça e tentou estupra-la no meio de um estacionamento, e que ela só conseguiu fugir pois gritou por ajuda, e apareceu um guarda, e adivinha o que o cara fez, falou que ela estava mentindo e o guarda acreditou, pois o estuprador se disse "evangélico".
Só quem é mulher sabe a dor que se sente quando lemos ou vemos uma noticia de abuso sexual, de violência doméstica, de sexismo, de morte de mulheres causadas pelo machismo.

Temos sim que fazer algo, dar uma basta! 
Não tenham vergonha de dizer que são feministas, tenham paciência para divulgar o feminismo e, principalmente, se assumam feministas! 

Pois os machistas querem fazer com que tenhamos vergonha de lutar por direitos iguais pelas mulheres. 

Eu não aguento mais ver tanto sofrimento das minorias, é negro sendo chamado de macaco por pseudo-humorista famosinho, é casal de namoradas morrendo a facadas pelo vizinho e o mesmo continua "foragido", é a banda de pagode estuprando duas menores e 80% dos comentários criticando as vítimas e não os estupradores, é a minha funcionária que apanha diariamente do marido e que tem medo de denunciar pois sabe que ele vai pagar uma fiança de R$200,00 e ele vai sair da cadeia, e ela ainda vai ter que ouvir que ela é mentirosa, que ela merece e etc.

Lágrimas de dor, lágrimas de revolta, lágrimas de vergonha e uma só pergunta: até quando?

Nossa luta só está começando, eu sei disso, mas veremos a vitória. 

E sabe apenas o que queremos? Sermos respeitadas independente de nossas escolhas. Sermos tratadas como seres humanos! É pedir muito?